terça-feira, 3 de agosto de 2010

Persona: Carmen Einfinger

Faz pouco mais de cinco meses que a artista Carmen Einfinger esteve no Brasil. E nem de longe consigo esquecer o encantamento dessa inglesa ao tocar as fantasias da ala das baianas de uma escola de samba de Cubatão executadas num complexo do projeto Fábrica da Comunidade. "Lindo, lindo!" _ ela dizia o tempo inteiro, maravilhada com plumas e penas falsas que ostentavam as cabeças que seriam desfiladas dias depois. O carnaval, claro, passou. As cinzas espalhadas pela avenida Carmen não viu. Mas deixou marcada em meu coraçãozinho piegas a saudade de uma mulher com alma e sorriso de criança.

Paramos a avenida principal da cidade. Eu, calorento que sou, de shorts xadrez tartan e camiseta branca. Carmen, com chapéu e uma capa de pashmina com proteção solar tentando se esquivar o tempo inteiro do sol de quase 40 graus daquele dia. Uma verdadeira loucura aquela mulher de pele alva passeando pela cidade brasileira que mais foi poluída nas décadas de 70 e 80.

Recebida de braços abertos e abraços calorosos pelos meus amigos da Fábrica da Comunidade, Carmen passou o dia comigo. Almoçamos juntos, comemos coxinha de galinha (sim, ela estava de regime, mas se deu a esse luxo!) e passamos horas numa cafeteria que eu sempre frequentava até me mudar de vez para São Paulo.

 Com o escultor Duayne Hatchett em Buffalo, 1987.

Na conversa relembramos perguntas que fiz numa entrevista gigantesca e que nunca fora publicada. Falamos sobre arte, paixões, sobre o Brasil e também as perdas que a artista teve ao longo da vida. Carmen relembrou a mudança para o Brasil com os pais e o irmão. Contou que seus pais conheceram-se no sanatório onde trabalhavam. O pai, um autêntico boemio, veio para cá em busca das riquezas amazônicas e seguia sua vida florestal enquanto que os filhos foram estudar em colégios internos. Passaram por dificuldades psicológicas nas escolas integrais de São Paulo e São Vicente, onde a artista fez bons amigos. Daí sua lembrança do antigo cinza cubatense e das fábricas poluindo o ar com fumaça. Aos 18 anos, após a morte de seu irmão em Santos, Carmen aventurou-se com uma amiga num cruzeiro e desembarcou em seu país natal, Inglaterra, com a coragem que lhe sobra até hoje.

 Aos quatro anos, com a mãe e o irmão no Rio de Janeiro.

Depois do regresso, Carmen foi morar no Canadá, onde foi modelo e conheceu amores. Casou-se, foi feliz e começou a pintar. Sua arte baseia-se na maneira como uma criança enxerga as cores. Os traços são sempre pretos, mas as cores não são pensadas. Amarelos misturam-se a marrons, violáceos confundem-se com verdes e o resultado final são obras que parecem ter sido pintadas por uma menina de seis anos de idade. Pergunto como a vivência em diferentes países, a infância tardia e as doloridas perdas influenciam em sua arte e, Carmen, como artista formada em Fine Arts pela Buffalo's University, se revela uma mulher de múltiplas faces. Suas pinturas refletem sonhos, poesias, particularidades. Pinta ídolos como quem pinta amigos e pinta amigos como quem pinta ídolos.

 Na época de modelo em Buffalo, 1979.

Sorte a minha já ter sido retratado por Carmen Einfinger e sorte de poucos e sortudos brasileiros como o assessor Fabricio González, a ex modelo Fatima Simonsen, a atriz Cintia Grillo e o empresário Augustusz Neto. Amigos em comum, amigos da artista e amigos das artes! Todos, certamente, orgulhosos dessa grande menina mulher.

 Brasileiros retratados por Carmen. Fatima Simonsen e Cintia Grillo, Daniel Amarhal, Fabricio González, Augustusz Neto e Fabio Saboya.

Saiba muito mais sobre essa mulher incrível, aqui!

por Daniel Amarhal
Fotos: acervo pessoal (Tk's!)

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